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Eu preciso do feminismo porque...


... quero ter o direito de andar nas ruas sem ser chamada de “linda”, “gostosa”, “delícia”, por homens que nunca vi antes. Quero ter meu espaço pessoal respeitado, não importa que roupa esteja usando. Se saio de short na rua, é porque o dia está quente, não para atrair atenção. Se é elogio, por que não dizem essas coisas quando estou com meu pai, meu namorado, ou algum amigo homem? Se é elogio, por que me xingam se eu não responder ou demonstrar que não gostei? Não é elogio. É manutenção das relações desiguais de poder entre homens e mulheres. Isso deve ser desconstruído.

... se um dia vazar uma sextape minha com meu namorado, não quero ser xingada de “vadia”, enquanto ele é louvado por ser “comedor”. Sexo, quando feito com consentimento de ambas (ou mais) partes, é natural, e jamais deveria ser motivo de vergonha. Por que uma pessoa é humilhada, quando duas consentiram e se divertiram? Chega da dicotomia santa-vadia. A mulher não precisa “se dar valor” ou “se respeitar”. Nós deveríamos ser respeitadas como os seres humanos que somos, e não vistas como objetos ou seres inferiores que precisam adequar-se a uma série de exigências absurdas.

... segundo uma estimativa de 2008, da Organização Mundial da Saúde (OMS), 47.000 mulheres morrem por complicações após abortos ilegais a cada ano¹. No Brasil, o aborto é proibido, exceto em caso de estupro, gravidez de risco, ou feto anencéfalo. O Feminismo luta pela legalização do aborto, pelo direito de escolha. Isso não quer dizer que as feministas incentivem o aborto, que sejam contra métodos anticoncepcionais, que queiram matar bebês. Muito pelo contrário! Além de incentivar o uso, e o fácil acesso a anticoncepcionais, o objetivo é salvar vidas, porque a realidade é assim: se uma pessoa realmente não deseja ter um filho, ela não o terá. As ricas ou de classe média abortarão em clínicas seguras com boas condições. As que não têm dinheiro para isso recorrerão a métodos perigosos, como medicamentos, cabides, agulhas de tricô. Essas alternativas resultam em hemorragias internas, esterilização, infecções e morte. O objetivo é salvar as vidas que podem ser salvas.

... enquanto milhões de mulheres são violentadas todos os anos, “comediantes” afirmam que mulheres feias deveriam agradecer por serem estupradas², que isso é uma oportunidade. Mulheres cisexuais são violentadas porque “provocaram, usaram roupa curta demais, estavam pedindo”. Mulheres transexuais são estupradas porque “são prostitutas que só vivem para o sexo e nada mais”. Lésbicas são abusadas para “serem corrigidas” e “aprenderem o que é ser mulher de verdade”. E as pessoas chamam isso de piada.

... não quero mais ouvir que homem não chora, que não pode achar outros homens bonitos, que meninos não podem brincar de casinha e boneca porque isso os tornará gays (como se homossexualidade fosse uma doença adquirida). O patriarcado também oprime homens quando insistem que todos devem estar no molde macho-alfa: provedor de casa, sempre transando com mulheres jovens (e cis), sempre confiante e autoritário. Enquanto isso, o estupro de homens, tanto por homens, quanto por mulheres, raramente é denunciado, por não ser visto como estupro. Afinal, que tipo de homem recusa sexo, certo? Errado. Esses estereótipos de gênero são prejudiciais para todas as pessoas, binárias e não-binárias, porque restringe as diversas expressões individuais.

... acredito que a sociedade precise de um movimento interseccional. Ok, o Feminismo é um movimento com diversas variantes, mas muitos ativistas concordam em um ponto: os preconceitos vêm em combo. Grande parte da homofobia e da transfobia, por exemplo, tem origem em pensamentos misóginos, e partem da aversão do que é visto como feminino, que é entendido como passivo, fraco. Se os discursos preconceituosos são tão abrangentes, a luta contra eles deve ser igualmente ampla.

¹ http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/70914/7/9789248548437_por.pdf

² http://entretenimento.r7.com/famosos-e-tv/noticias/rafinha-bastos-faz-piada-de-mau-gosto-sobre-estupro-20110508.html

 

Ana Brito, colunista convidada, é aluna do Médio-técnico em Biotecnologia, pretende fazer Medicina, e é apaixonada por gatos.

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