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“Toda mulher é feminista, embora algumas digam que não, porque ninguém quer sofrer opressão”, diz i

O “Feminismo de 3/4” é um Coletivo de mulheres formado em setembro de 2013 no Colégio Pedro II, com objetivo de debater sobre as experiências que as alunas viviam frequentemente, como assédios, tanto na rua e no transporte, como também na própria escola por parte de alguns professores. Segundo elas, logo nas primeiras reuniões do coletivo, decidiram o seu nome relacionado a uma característica forte, marcante e que gera união entre as alunas do colégio: o uniforme (saia plissada azul marinho, camisa branca, meia 3/4 e sapato preto). O uniforme causa fetiche em determinados homens, por isso, elas são vítimas desses assédios diariamente.

O coletivo perdeu força quando as meninas que o organizaram em 2013 se formaram e saíram do Colégio. As reuniões passaram a ficar menos frequentes e deixaram de ocorrer presencialmente por cerca de um ano. Mas os contatos e debates virtuais continuaram acontecendo e isso garantiu uma boa integração e solidariedade entre as integrantes mais novas com as mais antigas.

Em outubro de 2015, surgiu a iniciativa para a retomada das reuniões por parte das alunas do terceiro ano. Realizaram a apresentação do filme “Vidas Cruzadas” e debate com apoio das professoras de sociologia Val Lopes e Natália Braga, que contribuiu para que a vontade de que o grupo se reunisse aumentasse. Posteriormente, com o apoio das professoras, ocorreu a primeira reunião após o período de inatividade. No início de 2016, as participantes decidiram realizar reuniões presenciais de 15 em 15 dias.

Algumas professoras acompanham e apoiam o movimento, mas não participam diretamente de todas as reuniões, isto é, essas são realizadas e organizadas pelas próprias alunas, que identificam temas a serem debatidos, indicam textos, pautas, sugerem vídeos, filmes. As meninas se organizam de forma horizontalizada, democrática e autônoma, não há nenhuma liderança formal.

A sororidade (união de mulheres contra o patriarcado e tática de luta contra a rivalidade feminina) é a base do coletivo, que tem como finalidade formar uma comunidade de irmãs, fraternas e unidas contra o sistema machista opressor. A rivalidade entre as mulheres é uma ideologia poderosa criada para fazer com que a luta não aconteça, ou que as mulheres encontrem muitas dificuldades para o combate e o enfrentamento contra a desigualdade de gênero. Por isso é tão importante combater essa concorrência que foi imposta entre as mulheres. As meninas afirmaram que o termo ‘sororidade’ apresenta uma problemática social, pois não é conhecido na periferia e preferem não usá-lo, pois muitas mulheres não identificam o conceito. Elas tentam praticar o significado do termo, usam a ideia, e quando falam sobre o assunto, procuram expressar todos os sinônimos possíveis para atuar de forma bem didática e acolhedora. De acordo com as participantes, o diálogo é fundamental para dar vida às trocas de experiências e à aprendizagem mútua.

As participantes seguem correntes feministas diversificadas, e algumas não se identificam com nenhuma corrente, mas “não há como ter feminismo para todas se falamos a mesma coisa sempre. É preciso fazer recortes, de classe, raça, orientação sexual”, afirmou uma integrante, N. L. Assim, elas mantêm a unidade do movimento sem igualar as opressões e sofrimentos, que podem ser sentidos de formas diferenciadas. Mesmo que oprimidas, mulheres podem oprimir outras mulheres, então, partem do princípio da interseccionalidade, em que as opressões se cruzam, pois nem todas as mulheres sofrem apenas com a opressão de gênero. Elas pretendem conseguir administrar a diversidade das experiências de todas as meninas, tentando atuar de acordo com demandas específicas de cada uma.

A maioria das reuniões acontece com homens e mulheres, onde todas e todos podem participar. Exceto as reuniões que elas chamam de “vivências”, em que as meninas relatam experiências pessoais e ocorrências de abuso vividas por algumas. Nesse caso, a reunião é fechada para meninas, pois algumas delas não se sentiriam a vontade para relatar esses fatos junto dos meninos porque eles teriam muito pouco ou nada a relatar/acrescentar sobre o assunto.

Elas percebem que aos poucos têm conseguido mudar a visão de mundo das pessoas, principalmente das mulheres, que são o foco da atuação na desconstrução do machismo: “a mulher não ganha nada com o machismo, já o homem sim, porque ele sabe que é privilegiado. Essa é uma posição bem confortável, que nem todos querem deixar de ter” afirmou M. A. E ainda: “toda mulher é feminista, embora algumas digam que não, porque ninguém quer sofrer opressão”.

Contaram um exemplo do reconhecimento que tiveram do reitor da instituição, o professor Oscar Halac: um docente de biologia elaborou uma prova e utilizou o “x” para palavras femininas e masculinas no lugar do “a” ou “o”, adotando uma linguagem de gênero neutra. Essa iniciativa foi criticada por religiosos fundamentalistas, acusando o professor e a escola de imporem uma educação “esquerdopata”. Mas o reitor rebateu as acusações em defesa do docente argumentando que é mais importante formar cidadãos e pessoas sensíveis às questões sociais e aos direitos humanos do que apenas indivíduos com visão de mundo estreita.

Dessa forma, as meninas do coletivo desejam criar laços na escola, buscar apoio mútuo, estreitar as relações, se ajudarem e se protegerem contra a imposição e a reprodução da sociedade patriarcal. O ensino médio é um período muito difícil em que elas sofrem pressão da família, dos professores, da sociedade em geral, é preciso estarem unidas para enfrentar e lutar contra as desigualdades.

 


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