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Coletivo de Mulheres como instrumento de emponderamento feminino no IFRJ

Como já foi abordado neste blog¹, os coletivos feministas são grupos auto-organizados por mulheres, democráticos, nos quais o poder é distribuído horizontalmente, sem uma liderança formal, pois essas são espontâneas. Neste artigo, será analisado o Coletivo de Mulheres Bertha Lutz, especificamente.

Em um questionário desenvolvido (a fim de compreender, através de depoimentos das participantes, como ocorreu a organização do Coletivo, como este é visto na Instituição, etc), constituído por dez perguntas, as respostas obtidas foram agrupadas e analisadas.

O Coletivo de Mulheres Bertha Lutz, criado e organizado em 2014, está sendo mantido por alunas do IFRJ - Campus Rio de Janeiro. Uma vez lançada a ideia, foram organizadas as reuniões. Como auxílio para a comunicação entre as meninas do grupo, para promover debates sobre assuntos e temas do feminismo e outras atividades, as meninas fazem uso das redes sociais; ferramenta típica dos movimentos sociais atuais. Inicialmente, as meninas decidiram como estas seriam feitas, horários, alguns assuntos a serem debatidos e também o nome do Coletivo.

Esse nome foi inspirado na fundadora da Federação Brasileira para o Progresso Feminina (1922), que foi também protagonista na luta das mulheres pelo voto. Bertha Lutz (foto ao lado) foi homenageada pelo coletivo por ser engajada em um movimento feminista e ter também atuado na área científica (área em que se encaixa a Instituição, que em seus cursos técnicos tem um foco grande na área química e biológica), já que foi formada em Ciências Biológicas².

Conforme as reuniões foram acontecendo, o Coletivo enfrentou algumas dificuldades. Metade das entrevistadas alegou dificuldades em conciliar o tempo demandado pelos estudos e pelo grupo, além de que nos depoimentos foi citado que a falta de uma liderança efetiva atrapalhou a organização. Porém, a presença de uma líder desqualifica o grupo como coletivo, uma vez que este é um espaço no qual o poder se distribui horizontalmente. Relataram também a dificuldade em reunir um bom número de participantes, incluindo servidoras e profissionais terceirizadas.

Dentre as atividades promovidas pelo Coletivo (ao lado, imagem de oficina promovida pelo grupo), estão reuniões semanais direcionadas apenas para as meninas e algumas reuniões abertas ao público. No caso das reuniões abertas, ocorreram boas discussões, mas também alguns ataques que partiram dos homens. Uma das integrantes afirmou que a maioria dos presentes, em uma determinada reunião aberta, não estava a vontade para participar da discussão. Relatou-se também que nas outras atividades abertas a maioria dos presentes tinha opiniões em comum, o que empobreceu o debate.

Em cada reunião um assunto é proposto para a pauta. As respostas dadas apresentaram uma diversidade de temas. Dentre os mais abordados, foi possível observar temas relacionados à “prostituição” e “pornografia”, enquanto o mais discutido, segundo elas, foi violência contra a mulher, em suas diversas modalidades (violência psicológica, assédio, agressão física etc). Além deste último, as meninas citaram discussões sobre a legalização do aborto, machismo em casa, vertentes feministas, aceitação do corpo, participação dos homens no feminismo, a condição feminina atual, entre outros.

Houve diversividade também em meio aos temas que foram considerados pouco debatidos. Os temas citados foram: transfeminismo; violência obstétrica; masculinização e feminilização de determinadas carreiras; falta de espaço da mulher na arte; mulher na política; prostituição; feminismo radical e liberal; supremacia masculina na ciência; projetos de lei em prol e contra as mulheres; e mobilização das mulheres durante a história.

A respeito da influência que este espaço teve na vivência das participantes, a resposta foi unânime: a participação no Coletivo gerou empoderamento. Todas reconheceram que as conversas e o mútuo apoio entre as meninas do grupo estimulou cada uma a se aceitar, a tomar decisões de acordo com a própria vontade e a estar mais aberta para falar sobre feminismo.

Além disso, houve uma influência sobre o ambiente escolar. A maioria concorda que as intervenções promovidas pelo Coletivo geraram uma abertura de algumas pessoas para refletir sobre questões de gênero e são o ponto de partida para gerar mudanças efetivas no ambiente escolar. Uma prova disso é um relato contido em uma das respostas, onde alguns amigos de uma das meninas participantes a procuraram buscando maiores informações sobre feminismo. Apesar desta influência, as entrevistadas alegaram que não há interesse em participar e estar envolvido no grupo na mesma proporção em que há uma consciência da existência do Coletivo, por parte das pessoas que convivem no IFRJ Campus Rio de Janeiro em geral.

Nos últimos meses, constatou-se certa dificuldade em realizar novas reuniões do Coletivo de Mulheres Bertha Lutz. De acordo com a maioria das meninas, as reuniões não aconteceram mais pela falta de disponibilidade de cada uma; tanto por conta da demanda de tempo para estudos, quanto pelo horário no qual as reuniões ocorrem. Todas responderam que gostariam durante este período de estagnação que as reuniões voltassem a acontecer e foram dadas bastante sugestões para que isso pudesse ocorrer. A mais citada foi tornar o Coletivo e as reuniões mais atrativos (fazer cineclubes, oficinas, aulas de defesa pessoal; convidar outros coletivos feministas; disponibilizar materiais relacionados ao feminismo etc). Sugeriram também fazer reuniões mais longas, com mais tempo para as discussões, definir uma pauta e sistematizar o debate e convidar as calouras (alunas recém ingressadas na instituição) para participar das reuniões.

Quando questionadas a respeito do que mais as incomoda pelo fato de serem mulheres na escola, parte das meninas disseram que é o controle, por vezes explícito e por outras sutil, de suas vestimentas. Elas se mostraram incomodadas com o constante preconceito baseado no modo em como se vestem, isto é, confortáveis e sem vergonha de seus corpos. Esta reação por parte dos demais alunos, professores, servidores e funcionários pode ser gerada justamente por esta transgressão de padrões que determinam que mulheres devem exibir o mínimo possível de seus corpos.

As entrevistadas também se mostraram insatisfeitas com o questionamento feito a respeito da capacidade feminina, a maneira como elas são tratadas, como são diminuídas neste ambiente voltado para o desenvolvimento de ciência e tecnologia. Ou seja, mesmo contribuindo para o desenvolvimento destas últimas, mesmo estudando em uma instituição de excelência, como é considerado o IFRJ, as estudantes ainda sofrem com a cultura de que mulheres e ciência e tecnologia pertencem a domínios diferentes.

Por fim, as entrevistadas declararam que desejam estabelecer uma maior sensação de equidade com os homens; se sentir mais potentes para alcançar seus objetivos; demonstrar a força da luta feminina; alcançar mais mulheres e desconstruir o machismo imposto a elas; alem de fazer com que as pessoas entendam a necessidade do feminismo em nossa sociedade.

É para realizar estes desejos que essas meninas se manifestam, se apoiam e abrem um espaço, inúmeras vezes negado, mas que ultimamente tem ganhado mais fôlego, no qual elas possam ter voz e reconhecimento.

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¹ COELHO, Daniele. "A Primavera Feminista e a formação do Coletivo de Mulheres Bertha Lutz no IFRJ. Disponível em: http://mundoandrogino.wix.com/macg#!A-Primavera-Feminista-e-a-formação-do-Coletivo-de-Mulheres-Bertha-Lutz-no-IFRJ/q7htx/5740d2800cf28f6d2bcfb0f4

² VALVERDE, Daniela. "Bertha Lutz e o voto feminino." Disponível em: <http://blogueirasfeministas.com/2011/08/bertha-lutz/> Acesso em: 03 mai. 2016.


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