top of page

A Primavera Feminista e a formação do Coletivo de Mulheres Bertha Lutz no IFRJ

Ao longo da história, os movimentos femininos e feministas vêm se intensificando e assumindo novas formas de ação. A luta pelo sufrágio; a resistência das mulheres indígenas à colonização; a luta das mulheres negras pela libertação dos escravos; a luta pela liberdade de ir e vir e dispor de seu próprio corpo, contra a violência de gênero (sexual, doméstica, psicológica) e o assedio, pela visibilidade das mulheres como sujeitos da ciência e do conhecimento, pela igualdade de salários no mercado de trabalho¹. O enfrentamento feminista é também por legitimação: para que as mulheres não sejam julgadas pela beleza física, não sejam estereotipadas como fúteis, vaidosas ou fracas, para que reconheça o valor do trabalho não remunerado, como o serviço doméstico e que este seja dividido igualmente entre os moradores do mesmo lar. Estas e diversas outras ações e empreendimentos coletivos feministas, culminaram no ano de 2015, que ficou conhecido como a Primavera Feminista.

A Primavera Feminista foi a explosão dos movimentos feministas, tanto nas ruas quanto nas redes sociais no ano de 2015. Houve uma grande mobilização das mulheres em manifestações, como a Marcha da Mulher Negra, a Marcha das Margaridas e a campanha “Fora Cunha”, em resposta à criação do projeto de lei de Eduardo Cunha (deputado federal/PMDB e presidente da Câmara dos Deputados), que visa criar ainda mais empecilhos às mulheres que recorrerem ao aborto legal. Além disso, foi marcante neste ano a organização de campanhas online. #meuprimeiroassedio, é uma delas: criada para motivar mulheres a relatarem seus primeiros casos de assédio após uma participante da primeira edição do programa Masterchef Jr. Brasil (versão infantil do talent show de culinária brasileiro MasterChef, exibido pela Rede Bandeirantes baseado no formato original exibido pela BBC no Reino Unido) de 12 anos, ser citada em diversos comentários de caráter sexual. Outra campanha foi #meuamigosecreto na qual mulheres descreviam comportamentos e características dos seus conhecidos que eram machistas nas redes sociais².

Atualmente, pode-se destacar o avanço constante da auto-organização feminina na criação dos Coletivos de Mulheres (na foto ao lado, é apresentado o site "MAMU - Mapa de Coletivos de Mulheres", que cataloga Coletivos de Mulheres por todo o Brasil). Este é um espaço que visa representar de forma democrática e horizontal todas as participantes da instituição em que ele se faz presente e as pautas do feminismo. Por haver um acesso desigual aos mecanismos de poder, é importante considerar a necessidade de um espaço específico para que as mulheres discutam sobre si mesmas e sobre suas relações sociais. Em uma sociedade em que a autonomia e qualquer forma de expressão partidas de uma mulher são reprimidas, ter essa vivência de troca, aprendizagem e de realizar projetos conjuntamente, as faz acreditar na força que cada uma tem.

Assim, são formadas e transformadas mulheres que buscam superar as desigualdades de gênero. Se tratando de transformação, é no espaço escolar, inclusive, que a reflexão, a crítica e a discussão acerca desta questão social devem ser abordadas. Assim como há, nesse ambiente, a reprodução de todo esse problema sistêmico da ideologia machista; pode haver também seu questionamento. É relevante, portanto, a presença e a influência dos Coletivos de Mulheres nas escolas e universidades; movimento que tem se tornado grande tendência atualmente. Meninas de idades entre 14 e 19 anos têm se organizado em coletivos para discutir temas como o assédio sexual na rua, no transporte público e na própria escola, e o veto a shorts nos colégios. No Rio de Janeiro, assim como em São Paulo³, diversos desses têm sido organizados.

Um exemplo é o “Coletivo de Mulheres Bertha Lutz” (foto a seguir da logo do grupo), criado em março de 2014, no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro - IFRJ, campus Rio de Janeiro. As integrantes relatam que a iniciativa para a organização do grupo partiu de uma aluna, que no momento era participante do grêmio estudantil. Algumas delas ficaram sabendo de sua organização a partir do Fórum do CART (Conselho dos Alunos Representantes de Turma), o qual grande parte dos alunos tem acesso e são livres para compartilhar tudo o que for relacionado ao Instituto.

Dentre as atividades promovidas pelo Coletivo, estão as reuniões semanais direcionadas apenas para as meninas e algumas reuniões abertas ao público geral, oficinas de cartazes, leitura e debate de textos. As intervenções são impulsionadas por diversas situações constrangedoras as quais passam dentro do próprio colégio. Entre elas estão: o preconceito sofrido por conta da roupa que usam, uma vez que o uso de uniforme não é obrigatório e elas são “livres” para usarem o que quiserem; receberem maior atenção dentro dos laboratórios apenas por serem mulheres e, portanto, por serem consideradas mais frágeis; os estereótipos criados acerca dos cursos técnicos “de mulheres “ e “de homens”; etc.

Sendo assim, os coletivos contribuem para um melhor entendimento e conscientização das comunidades escolares a respeito das desigualdades de gênero e estimulam o desenvolvimento da solidariedade entre as meninas. As vozes e as histórias das jovens estudantes humanizam e trazem o respeito à diversidade no espaço escolar. A gente vê isso na prática.

 

¹ BEAUVOIR, S. de. O Segundo Sexo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009; SMITH, Andea. Indegenous feminism without apology. Disponível em: <https://unsettlingamerica.wordpress.com/2011/09/08/indigenous-feminism-without-apology/> Acesso em 17 abr. 2016; Dandara dos Palmares, líder feminina negra que lutou contra a escravidão e defendeu o Quilombo de Palmares. Personalidades negras - Dandara dos Palmares. Disponível em <http://www.palmares.gov.br/?p=33387> Acesso em: 17 abr. 2016; Criação da Lei Maria da Penha, cujo nome homenageia a mulher que sofreu duas tentativas de assassinato pelo marido e lutou durante 20 anos para que o mesmo fosse preso. Lei Maria da Penha. Disponível em: < http://www.observe.ufba.br/lei_mariadapenha> Acesso em: 03 mai. 2016.

² BELLO, Luíse. Uma primavera sem fim. Disponível em: <http://thinkolga.com/2015/12/18/uma-primavera-sem-fim/> Acesso em 03 mai. 2016.

³ COLLUCCI,Claudia; GRAGNANI, Juliana. Meninas formam coletivos feministas em escolas de ensino médio de SP. Folha de São Paulo, São Paulo, 11 de nov. 2015.


Posts Em Destaque
Posts Recentes
Arquivo
Procurar por tags
Nenhum tag.
Siga
  • Facebook Basic Square
  • Twitter Basic Square
  • Google+ Basic Square
bottom of page