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“A mulher negra não é só pra ser corpo, beleza, dança… Negro é lindo, mas lindo também porque pensa,

Dando prosseguimento ao “I Ciclo de Atividades no Mês das Mulheres”, foi a vez de Marielle Franco, em 16 de março, socióloga formada pela PUC-Rio, dar o tom da conversa na atividade “Mulheres Negras”. Com o mesmo formato de palestra do evento inaugural, Marielle foi apresentada pela professora de história, Pâmella Passos, e iniciou sua fala.

A socióloga se apresentou como mulher negra, favelada, funkeira e mãe adolescente, sendo assim o estereótipo de mulher negra. Contrastando com o que era esperado dela, porém, Marielle fez sociologia, numa das mais renomadas universidades do Rio de Janeiro e, durante sua formação, decidiu que queria ver a revolução não somente teorizada, mas atuante. Após 2006, quando uma amiga próxima sua, Jaqueline Silva, foi morta em uma operação policial, Marielle se envolveu em uma campanha contra o “caveirão” (nome popular dado ao carro blindado usado pelo Batalhão de Operações Especiais, o BOPE, do Rio de Janeiro), contra as operações policiais que, muitas vezes, entram na favela para matar, e ainda gritam para as mulheres (em sua maioria, negras): “sai da frente, sua piranha!”.

Marielle, fazendo uma análise de contradições juntamente ao público, levou a questão do racismo institucional versus diversas mulheres negras ganhando prêmios. Como exemplo, apresentou o caso de Conceição Evaristo, escritora que ficou em 3º lugar em Contos e Crônicas no “Prêmio Jabuti” de 2015 (maior prêmio da literatura brasileira), com “Olhos D’água”, mas que não obteve repercussão de seu desempenho no prêmio na grande mídia; o que não ocorreria se o prêmio fosse dado à Ruth Rocha, Maria Clara Machado, dentre outras consagradas escritoras. Todas brancas. A frase que dá título a esse artigo é de Conceição: “a mulher negra não é só para ser corpo, beleza, dança… Negro é lindo, mas lindo também porque pensa, porque escreve, porque debate, porque luta,” que aborda o problema da hipersexualização da mulher negra.

Intencionando o enriquecimento da palestra, a socióloga preparou uma apresentação com doze exemplos (geralmente, não estudados em sala de aula) de escritoras negras brasileiras, não tão conhecidas pelo público em geral, mas reconhecidas através de prêmios na academia, citando uma breve biografia de cada uma e também suas principais obras. As autoras citadas foram Ana Cruz, Ana Maria Gonçalves, Conceição Evaristo, Eliana Cruz, Helena Teodoro, Lia Vieira, Elisa Lucinda, Geni Guimarães, Lélia Gonzalez, Beatriz Maria Costa, Nilma Lino Gomes e Sandra Almada.

Continuando sua fala, Marielle ainda discutiu o ano de 2015, considerado o ano da “primavera das mulheres”, devido a diversas manifestações feministas (principalmente contra retrocessos votados no Congresso Nacional, liderados pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha; mas também contra a prática banalizada do black face – onde atores brancos pintam seus rostos e corpos de tinta preta para a interpretação de personagens negros, técnica extremamente racista surgida nos EUA ainda segregados racialmente, mas somente agora problematizada), classificando as mulheres dos protestos de 2015 como mulheres de atitude.

Durante os protestos de 2015, muito se falou em pensadoras mulheres (influenciando até mesmo nas questões do ENEM), onde entre elas, destacou-se a filósofa francesa Simone de Beauvoir. A palestrante, no entanto, não desmerecendo a filósofa consagrada, define a visão de Beauvoir como eurocêntrica, não abrangente às mulheres negras.

Sobre a propagação ininterrupta de informações e notícias feministas por meio de redes sociais, Marielle destacou a importância destas, mas a necessidade de não serem o único meio de informações. Segundo ela, é sempre importante o aprofundamento em determinados assuntos, para que não se prenda a discussões superficiais, e para que, cada dia mais, se discuta a importância do movimento negro, do movimento feminista, dentre outros, sem que haja reprodução do senso comum.

Finalizando sua fala, a socióloga, negra, favelada, funkeira e mãe adolescente, apresentou a plateia um vídeo da música “Ain’t got no”, de Nina Simone, e, dando por encerrada sua participação, foi ovacionada pelo auditório lotado.

No segundo momento da atividade, quando foi aberto para perguntas do público, essas foram bastante variadas. Quando indagada acerca do conceito de colorismo, Marielle falou sobre o quanto o racismo no Brasil é dependente e gradual conforme a tonalidade mais escura da cor da pele e do cabelo mais crespo do que cacheado. Quando indagada sobre o feminismo negro, Marielle respondeu dizendo que esse movimento agrega mulheres que são negras, antes de serem feministas; ou seja, que tem prioridades e pautas diferentes do feminismo “comum”. A uma pergunta referente a apropriação cultural, respondeu que tem muitas dúvidas quanto a isso, não necessariamente concordando com o termo, no que ela mesma definiu como “se nos autoafirmarmos, e negarmos os outros, um dia seremos os outros”.

Entre todas as perguntas feitas, no entanto, nenhuma chamou mais a atenção do que a feita por uma aluna do IFRJ, quando esta indagou à palestrante: “sou ou não negra?”, complementando que seus amigos não a veem como mulher negra, apesar de seu cabelo crespo. A pergunta, que atingiu diversos outros alunos no auditório com as mesmas indagações, foi respondida com “o que você acha? Que é negra ou não? Se acha que é negra, então é negra”.

A última situação ocorrida na atividade, apenas mostra a importância da discussão de assuntos como esse em ambiente escolar. Discussões como a trazida pelo LIEGS nesta atividade do Ciclo, são extremamente fundamentais na formação dos jovens, seja pela necessidade da representatividade, seja pela busca de um ambiente mais igualitário e tolerante.

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