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Retrato Colorido e Círculo Cromático: coletivos LGBT ganham força no espaço escolar

Os Coletivos são espaços de auto-organização de grupos com interesses em comum que lutam por causas específicas. Diferente do modelo tradicional dos grêmios estudantis, nos coletivos não há hierarquia, divisão de cargos e eleições, nem diferenciação entre os membros, todos têm o mesmo poder de decisão em todos os assuntos, possibilitando maior protagonismo dos participantes. Quanto às formas de ação, os coletivos realizam rodas de conversa, cine debates, oficinas de cartazes, atos de protesto. Nos últimos anos, essa forma de movimento social tem se ampliado nas escolas e universidades.

Imagens das logos dos coletivos

O Retrato Colorido, coletivo LGBT do Colégio Pedro II, surgiu no Campus São Cristóvão em 2014 após um ato de homofobia ocorrido em uma festa de formatura do colégio. Depois foi formado nos outros 8 Campi.

O Círculo Cromático, coletivo LGBT do IFRJ, Campus Rio de Janeiro, foi formado recentemente. Em 16 de junho deste ano ocorreu uma reunião no IFRJ, Campus Rio de Janeiro, onde ambos coletivos se encontraram para trocar ideias e experiências.

Alguns alunos do IFRJ afirmaram que a criação do coletivo incomodou muita gente do colégio. Estudantes foram agredidos na rede social e na própria escola: “quando uma minoria tenta ganhar espaço tem sempre pessoas querendo frear, pois a força que a sociedade tenta exercer sobre nós acaba diminuindo”, afirmou um aluno integrante do Círculo Cromático, Caio Borges. Há de fato uma resistência de grupos conservadores e é preciso saber lidar com isso, sendo importante realizar a luta pedagógica e dialógica na escola para conscientizar as pessoas.

Uma realidade que os alunos lidam frequentemente nas escolas é a existência de alguns professores machistas, homofóbicos, racistas. Os estudantes enfrentam problemas ao ouvirem “piadas” e comentários preconceituosos, pois se sentem constrangidos e veem essa atitude como um abuso de poder. Ficar calado com medo de represália/reprovação ou dizer para o professor que o que ele falou é preconceituoso? Esse é um dilema problematizado pelos alunos, mas que parece que chegou a um consenso: eles não pretendem se calar e desejam se posicionar contra essas falas. Os coletivos de mulheres, LGBT, negro, podem unir forças contra tais comportamentos e se colocarem de forma a tornar essas atitudes inaceitáveis.

Como afirmou um dos integrantes do Retrato Colorido, Leonardo Carvalho, os coletivos criam “frentes combativas” e “frentes didáticas”, pois de um lado lutam contra o machismo, a homo e a transfobia e, por outro lado, estudam, leem, pesquisam, aprendem juntos para ensinar para outras pessoas, formar cidadãos conscientes sobre os direitos humanos e realizar um processo frequente de desconstrução na comunidade escolar.

O Retrato Colorido do Campus Niterói realiza suas reuniões “abertas”. Os integrantes afirmam que assim conseguiram mais visibilidade no colégio, mas não perderam seu protagonismo. Até mesmo no Coletivo de Mulheres do Colégio Pedro II, o Feminismo de ¾, as reuniões são “abertas” para homens também. Por enquanto essa não foi a escolha do Círculo Cromático, que decidiu fazer reuniões “fechadas” para se fortalecerem mais, se conhecerem melhor e criarem vínculos. Os integrantes pensam que este é um caminho mais seguro, pois antes de “abrir” para todos, é preciso estar unidos, com um discurso alinhado.

Quanto ao apoio dos professores, o grupo entende que é importante que estes respaldem os coletivos, colaborem com a causa, se posicionem para desfazer mitos e rótulos em torno da questão e ajudem a criar uma cultura na escola em que a diversidade sexual seja vista como natural, positiva, e que deve ser respeitada. Porém, não é necessário que os professores estejam presentes em todas as reuniões, é importante que a participação dos mesmos não iniba os alunos e os deixem à vontade para debaterem entre si.

Um dos resultados importantes da atuação do Retrato Colorido e da pressão de servidores sensíveis à causa trans, foi que o Colégio Pedro II passou a aceitar o nome social de alunos transexuais¹, sendo o primeiro da rede pública no Rio a cumprir o decreto federal:

“Há dois anos, uma aluna trans do colégio foi assistir as aulas de saia – peça do uniforme feminino da escola – e a direção recomendou que ela trocasse pela calça. Agora, alunos e alunas trans podem usar o uniforme com o qual se sentem melhor”.

A escola pode e deve promover uma cultura baseada na liberdade e na igualdade, construir uma base de pensamento e educação cidadã, combater as opressões de classe, gênero, etnia, sexualidade. Os coletivos contribuem para a disseminação desse pensamento, pois realizam a combinação entre o entendimento racional e o afeto, a capacidade de amar e ter empatia, valorizar, abrir-se e se colocar no lugar da outra pessoa.

“A ignorância das pessoas é o que as faz travar, o preconceito aprisiona as pessoas”, disse o professor Anderson Henriques, integrante do coletivo Círculo Cromático. Assim, é preciso que a educação desenvolva a razão, mas também a sensibilidade dos estudantes para barrar o desconhecimento e a intolerância. Construir laços de cognição e afetividade, produzir o amor político, proporcionar a aprendizagem da linguagem dos demais e a experimentação do mundo a partir das diferenças e da novidade: isso também se aprende na escola.

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¹ Até agora, somente o Campos Tijuca II aplicou a resolução, mas o colégio confirmou que fará a adequação de documentos caso surjam novos pedidos. Em: <http://noticias.r7.com/rio-de-janeiro/colegio-pedro-ii-e-o-primeiro-a-aceitar-nome-social-de-alunos-transexuais-31052016>. 31/05/2016.


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